Estou perfeitamente onde eu queria estar.
Um mergulho nas incertezas, nos sentimentos contraditórios e na batalha silenciosa entre querer mudar e se deixar ficar.
Me considero uma pessoa agitada, mas só quando me convém, ou quando realmente estou feliz. Eu amo falar, preencher o espaço com palavras, fazer barulho, mas ao mesmo tempo prefiro ficar quietinha. Assim é melhor, não incomodo ninguém, não falo demais e, principalmente, não estrago tudo. Eu amo estar com alguém, dividir momentos, risadas, silêncios, mas, ao mesmo tempo, amo ficar sozinha. Sozinha, tudo é mais calmo, mais simples, mais seguro. Eu amo tudo e, ao mesmo tempo, não amo nada. Talvez eu só esteja cansada, talvez eu só esteja confusa. Nos últimos tempos, a confusão virou companhia, e eu já nem sei mais quem sou ou o que quero.
Eu não gosto mais de conhecer gente nova. Me dá preguiça. Cansa a alma, pesa na cabeça. E, sinceramente, não vejo nisso um problema, mas as pessoas veem. Sempre veem. Sempre dizem que eu deveria me abrir mais, socializar mais, me esforçar mais. Eu escuto, finjo que tento, mas, no fundo, não mudo. Não consigo. Não quero. Sou assim há tanto tempo que já nem sei se é possível ser de outro jeito.
Estou perfeitamente onde eu queria estar, mas nem tanto. Porque, no fundo, eu não queria ser assim, mas me tornei. E agora? Agora não. Hoje não. Espera só mais um pouquinho. A melancolia está fazendo casa aqui dentro. E, por enquanto, eu deixo. Não quero atrapalhar o trabalho dela. Ela se esforça tanto. Mas, se um dia pesar demais, eu juro que destruo tudo. Não me subestime, eu posso fazer isso. Ou não. Esquece. Está tudo bem. Por enquanto, está tudo bem. A casa dela nem é tão pesada assim. Dá pra suportar. Dá pra carregar. Pelo menos, por enquanto. Quando não der mais, eu faço alguma coisa. Eu prometo.
Eu não entendo a mim mesma. Não sei o que há de errado comigo, mas sinto que tem algo fora do lugar. Talvez seja o meu cabelo, meu corpo, minha forma de pensar. Talvez seja a minha classe social ou o jeito como eu enxergo o mundo. Talvez seja tudo isso junto. Ou nada disso. Eu não sei. Mas, no fim das contas, alguém realmente se importa com isso?
Aqui onde estou é confortável. Eu posso rir quando quero e chorar quando preciso. Faço os outros rirem também. Às vezes, faço chorarem. Mas está tudo bem. Sempre digo a eles: "Ei, não chore. A vida é assim. Está tudo bem." Eu digo isso porque quero acreditar. Porque, se não acreditar, eu desmorono.
Nunca fui de magoar ninguém. Sou boazinha ou só tenho pena? Eu não sei. Nunca vou saber. Ninguém tem paciência de me explicar, e eu já me cansei de perguntar. Conviver comigo deve ser insuportável. Uma bagunça. Um labirinto sem saída. Eu sei disso. Não deveria ser assim. Eu deveria sair daqui antes que me prenda de vez e engula a chave. Mas... e se eu deixar isso acontecer? Não vai me matar. Vai? Vai só sufocar um pouco mais a cabeça, e ela já está gritando por socorro há um tempo. Mas eu tampei os ouvidos do cérebro. Não quero escutar. Não agora.
Se um dia o tampão cair, eu vou ter que pedir ajuda. Mas pedir ajuda cansa. Dá trabalho. E eu não tenho forças pra isso. Não significa que eu não sou forte – eu não disse isso. Eu só... não tenho força pra esse tipo de coisa. Pra estudar, pra falar, pra dançar, pra ler, pra escrever. Tudo cansa. Tudo esgota.
Aonde eu queria estar? Eu queria estar namorando, mas não queria namorar ninguém. Eu não consigo. Eu queria ser amada, mas amar é cansativo. Amar exige muito, e eu não tenho muito pra dar. Eu queria, mas não consigo. Queria estar em um café, ouvindo jazz e lendo um livro que me fizesse esquecer do mundo, mas só de imaginar já me dá preguiça. Então eu fico aqui, rolando a tela do TikTok e fingindo que está tudo bem. Ou não está? Eu já não sei mais.
Talvez eu não esteja perfeitamente onde eu queria estar, mas eu gosto daqui. Aqui é quentinho, silencioso, seguro. Ninguém entra. Ninguém toca. Ninguém muda nada. Só eu. Só eu posso mudar. Mas não quero. Por quê? Não sei.
Talvez um dia eu saiba. Ou talvez não.